sábado, 21 de abril de 2018

Seminário "Rituais da Percepção Tecnologia, arte e sensibilidade"

No dia 20 de março de 2018, assisti uma palestra muito enriquecedora com o Profº Hernán Rodolfo Ulm. 

Hernán Ulm é Doutor em Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense (2014) e é Magister en Filosofía Contemporánea - Universidad Nacional de Salta (2006).Desde o ano 2006 é professor adjunto estética e História das artes na Univiersidad Nacional Salta. Tem experiência na área de Filosofia, com ênfase em Estética, atuando principalmente nos seguintes temas: estética, arte, politica, deleuze e subjetividad, teoria das imagens e intermedialidade.

"A arte pensa comunidade ou ultrapassa o sentido da comunidade?" 

Em algumas anotações e observações que pude fazer, pude compreender o foco de uma aproximação entre a arte, tecnologia e sensibilidade e me levou a pensar a relação entre estética e política no pensamento contemporâneo.
Li um texto de Deleuze e gostaria de compartilhar aqui, pois achei intrigante e interessante.

"Há os conceitos, que são a invenção da Filosofia, e há o que podemos chamar de perceptos. Os perceptos fazem parte do mundo da arte. O que são os perceptos? O artista é uma pessoa que cria perceptos. Por que usar esta palavra estranha em vez de percepção? Porque perceptos não são percepções. O que é que busca um homem de Letras, um escritor ou um romancista? Acho que ele quer poder construir conjuntos de percepções e sensações que vão além daqueles que as sentem. O percepto é isso. É um conjunto de sensações e percepções que vai além daquele que a sente. Vou dar alguns exemplos. Há páginas de Tolstoi que descrevem o que um pintor mal saberia descrever. Ou páginas de Tchekov que, de outra maneira, descrevem o calor da estepe. Há um grande complexo de sensações, pois há sensações visuais, auditivas e quase gustativas. Alguma coisa entra na boca. Eles tentam dar a este complexo de sensações uma independência radical em relação àquele que as sentiu. Tolstoi também descreve atmosferas. As grandes páginas de Faulkner! Os grandes romancistas conseguem chegar a isso. Há um grande romancista americano que quase disse isso. Ele não é muito conhecido na França, e gosto muito dele. É Thomas Wolfe. Ele descreve o seguinte: 'Alguém sai de manhã, sente o ar fresco, o cheiro de alguma coisa, de pão torrado, etc., um passarinho passa voando... Há um complexo de sensações. O que acontece quando morre aquele que sentiu tudo isso? Ou quando ele faz outra coisa? O que acontece?'
Isso me parece a questão da arte. A arte dá uma resposta para isso: dar uma duração ou uma eternidade a este complexo de sensações que não é mais visto nem sentido por alguém ou que será sentido por um personagem de romance, ou seja, um personagem fictício. É isso que vai gerar a ficção. E o que faz um pintor? Ele faz apenas isso também, ele dá consistência a perceptos. Ele tira perceptos das percepções. Há uma frase de Cézanne que me toca muito, Um pintor não faz outra coisa. Há uma frase que muito me impressiona.
Pode-se dizer que os impressionistas distorcem a percepção. Um conceito filosófico ao pé da letra é de rachar a cabeça, porque é o hábito de pensar que é novo. As pessoas não estão acostumadas a pensar assim. É de rachar a cabeça! De certa forma, um percepto torce os nervos e podemos dizer que os impressionistas inventaram perceptos. Mas Cézanne disse uma frase que acho muito bonita: "É preciso tornar o impressionismo durável". Quer dizer que o motivo ainda não adquiriu independência. Trata-se de torná-lo durável e, para isso, são necessários novos métodos. Ele não quis dizer que se deve conservar o quadro, e sim que o percepto adquire uma autonomia ainda maior. Para tal, precisará de uma nova técnica. 
E há um terceiro tipo de coisa e muito ligada às outras duas. É o que se deve chamar de afectos. Não há perceptos sem afectos. Tentei definir o percepto como um conjunto de percepções e sensações que se tornaram independentes de quem o sente. Para mim, os afectos são os devires. São devires que transbordam daquele que passa por eles, que excedem as forças daquele que passa por eles. O afecto é isso. Será que a música não seria a grande criadora de afectos? Será que ela não nos arrasta para potências acima de nossa compreensão? É possível.
Mas o que quero dizer é que as três estão ligadas. É uma questão de acentuar as coisas. Quando se pega um conceito filosófico, este conceito faz com que se veja as coisas. Os filósofos têm este lado de videntes, pelo menos aqueles de quem gosto. Spinoza faz ver. É um dos filósofos mais videntes que existe. Nietzsche também faz ver. E eles também são fantásticos 'lançadores de afectos'. É por isso que me vem logo à mente a idéia de uma música destes filósofos. Assim como a música faz ver coisas estranhas. Às vezes, ela nos faz ver cores, mas cores que não existem fora da música. E os perceptos também. Todos estão muito ligados. Eu sonho com uma espécie de circulação entre uns e outros, entre os conceitos filosóficos, os perceptos pictóricos, os afectos musicais. E não é de se espantar que existam repercussões. Por mais independentes que sejam estes trabalhos, eles se penetram constantemente." 

Nossas percepções são rituais que permitem que alguma coisa "apareça", sensações e emoções, um devir constante.

" O homem já não produz objetos, pois o que faz é a tecnologia."

O professor Hernán comentou sobre a primeira fotografia tirada por Joseph Niépce, ela foi criada com uma placa de estanho sensibilizada com cristais de sais e que levou 8 horas para ficar pronta.
Hoje em dia em apenas um segundo temos uma foto instantânea, a comparação entre o texto de Deleuze e essa frase é que o texto passa a profundidade da arte, o percepto, a conexão de uma espécie com a outra, apesar da tecnologia ser uma ótima ferramenta, ela acaba nos afastando de um mundo real, colorido e vivo.

Referência do texto de Deleuze: http://devirfotografia.blogspot.com.br/
 









 

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